"Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram parti-cipantes do Espírito Santo. (5) E provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, (6) E recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério." (Hebreus 6:4-6 ACF[1])
Introdução A passagem que agora está ocupando nossa atenção é uma das mais graves na epístola aos Hebreus, até mesmo, quando comparada a qualquer outra no Novo Testamento. Provavelmente, poucas almas regeneradas a têm lido, refletidamente, sem serem tocadas de temor e tremor. Professantes[2] descuidados têm sido levados freqüentemente à inquietação em suas consciências assim que ouvem sua atemorizante linguagem. A passagem fala de uma classe de pessoas que foram altamente privilegiadas, que foram singularmente favorecidas, mas que, ao invés de terem aperfeiçoado suas oportunidades, desgraçadamente perverteram-nas; aqueles que trouxeram vergonha e reprovação à causa de Cristo; e que estão em uma condição tão sem esperanças que é "impossível que sejam outra vez renovados para arrependimento". Bom será se, cada um de nós, levarmos sinceramente nosso coração a Deus, suplicando-Lhe que nos impeça de cometer tal naufrágio na fé[3]. Como provavelmente a maioria de nossos leitores estão cientes, os versos diante de nós têm provado ser um dos mais ferozes campos de batalha teológica de todos os tempos. É neste ponto que as mais quentes batalhas entre Calvinistas e Arminianos têm sido travadas. Aqueles que acreditam que é possível a um verdadeiro Cristão cometer pecado e apostatar de modo a cair da graça e se perder eternamente, têm confiadamente apelado para estes versos de modo a provar sua teoria. É muito preocupante, uma vez que sua teoria os tornou tão preconceituosos, que se tornam incapazes de examinar imparcialmente, e pesar cuidadosamente, seus vários termos. Com suas mentes tão polarizadas por suas visões da apostasia, eles têm antes tomado como certo que esta passagem descreve um verdadeiro filho de Deus, que, virando completamente suas costas para Cristo, no final das contas perece. Mas, as Escrituras nos ordenam a "examinar tudo" (I Te. 5:21), e isto implica algo mais que uma investigação superficial e apressada do que é, admitidamente, uma passagem difícil. Se de um lado, os Arminianos têm estado sempre prontos a ler, nesta passagem, seus dogmas não bíblicos da apostasia de um Cristão, é necessário confessar que muitos Calvinistas têm falhado em atacar com sucesso e interpretar satisfatoriamente os pontos mais difíceis destes versos. Estão certos ao afirmar que as Escrituras ensinam, enfática e inequivocamente, a Divina preservação e a perseverança humana dos santos, bem como eles têm também sabiamente apresentado que a Palavra de Deus não pode e não se contradiz. Se nosso Senhor determinou que Suas ovelhas "nunca pereceriam" (Jo 10:28), então certamente Hebreus 6 não ensina que algumas perecerão. Se através do apóstolo Paulo o Espírito Santo nos assegura que nada pode separar o filho do amor de seu Pai (Rm. 8:35-39), então, sem dúvida, a passagem que agora está diante de nós não declara que alguma coisa irá. Pode nem sempre ser fácil descobrir a perfeita consistência de uma escritura com outra, mas nós ainda devemos nos ater firmemente à inerrante harmonia e integridade da Verdade de Deus. A primeira dificuldade ligada à nossa passagem é termos certeza da classe de pessoas que estão lá representadas. O Espírito Santo, aqui, está descrevendo almas regeneradas ou não regeneradas? O próximo passo é determinar qual é o significado de "e recaíram". Por fim, o que está sendo designado através de "É impossível que sejam outra vez renovados para arrependimento". Antecipando nossa exposição, nós estamos plenamente seguros de que o "recaíram" aqui apresentado significa um deliberado, completo e final repúdio a Cristo - um pecado para o qual não há perdão. Assim também nós entendemos que "impossível" renová-los novamente para arrependimento, denuncia que sua condição e caso estão além de qualquer esperança de recuperação. Por causa disto, os Calvinistas têm, geralmente, afirmado que esta passagem está tratando meramente de não convertidos. Mas, sobre isto há duas objeções insuperáveis: primeiro, os meramente não convertidos não têm do quê "recair"; segundo, meramente não convertidos nunca foram "renovados" para arrependimento. Adicionalmente à controvérsia que estes versos têm ocasionado, não poucos os têm transformado através de um uso indevido: Condição d'alma
Antes de tentarmos uma elucidação das dificuldades acima mencionadas, e para preparar o caminho de nossa exposição destes versos, cujo conteúdo tão violentamente tem embaraçado a muitos, deixe-nos recordar, mais uma vez, a condição d'alma na qual estes Cristãos Hebreus tinham caído: Eles tinham-se tornado "negligentes para ouvir" (Hb. 5:11), "não estavam experimentados na palavra da justiça" (Hb. 5:13), e eram incapazes de mastigar "mantimento sólido" (Hb.5:14). Esta condição estava repleta das conseqüências mais perigosas: Deve ser notado, contudo, que é tão fácil, e que a atração é tão real, para um Cristão gentio retornar àquele mundo do qual o Senhor o chamou, quanto era a um Cristão judeu retornar novamente ao Judaísmo. E na exata proporção em que o Cristão falha em andar com Deus diariamente, assim também o mundo obtém poder sobre seu coração, mente e vida, e uma continuidade no mundanismo está repleta das mais diretas e fatais conseqüências. "Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados", etc. (verso 4).
Aqui o apóstolo continua a digressão que iniciou em Hebreus 5:11. O parêntesis teve duas divisões: a primeira, em Hebreus 5:11-14 é repreensiva; a segunda, em Hebreus 6:1-20 é exortativa. No capítulo 6 ele exorta os Hebreus sobre dois deveres: o progresso no caminhar Cristão (versos 1-11); perseverança interior (versos 12-20). A primeira exortação está proposta nos versos 1 e 2 e qualificada no verso 3. O motivo para obedecer é esboçado a partir do perigo da apostasia (versos 4-6). A abertura "Porque" no verso 4 anuncia uma conexão próxima de nossa passagem atual com aquela que imediatamente a precede. Ela esboça uma conclusão do que o apóstolo tinha dito em Hebreus 5:11-14. Ela amplifica o "Se" do verso 3. Ela mostra um sério aviso contra sua continuação em sua indolência atual. Isto delineia um terrível contraste com a possibilidade no verso 3. Três coisas chamam nossa cuidadosa atenção ao nos aproximarmos de nossa passagem: as pessoas a quem aqui se fala, o pecado que elas cometeram, e a condenação anunciada a elas. Ao considerar as pessoas a quem se fala é da maior importância notar que o apóstolo não diz: "nós que fomos uma vez iluminados", nem mesmo diz "vocês", ao invés, ele diz "aqueles". Em claro contraste com eles, ele diz aos Hebreus, "Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores".[8]
É muito pouco preciso designar como "meros professantes" aqueles descritos nos versos 4, 5. Eles foram uma classe que tinha gozado de grandes privilégios, acima de tudo como agora acompanha a pregação do Evangelho. Aqueles aqui retratados são ditos como havendo recebido cinco privilégios, o que está em contrate com as seis situações enumeradas nos versos 1, 2, as quais pertencem ao homem na carne, sob o Judaísmo. Cinco é o número da graça, e as bênçãos aqui mencionadas pertencem à dispensação Cristã. Ainda que eles não fossem verdadeiros Cristãos. Isto é evidente do que não é dito. Observe que eles não foram citados como sendo eleitos de Deus, como aqueles por quem Cristo morreu, como aqueles que foram nascidos no Espírito. Eles não são citados como sendo justificados, perdoados, aceito no Amado. Nem é citada qualquer coisa sobre sua fé, amor, ou obediência. Ainda que estas sejam exatamente as qualidades que distinguem um verdadeiro filho de Deus. Primeiro, eles tinham sido "iluminados".
O Sol da justiça havia brilhado, trazendo cura nas suas asas[9], e, como Mateus 4:16 diz: "O povo, que estava assentado em trevas, Viu uma grande luz; E, aos que estavam assentados na região e sombra da morte, A luz raiou." Diferente do pagão, a quem Cristo, nos dias de Sua carne, não visitou, aqueles que vieram sob o som de Sua voz foram maravilhosamente e gloriosamente iluminados. A palavra grega para "iluminado" aqui significa "receber luz ou conhecimento através do ensino". É assim traduzida na Septuaginta em Juízes 13:8, II Reis 12:2, 17:27. O apóstolo Paulo a utiliza como "manifestar", ou "trazer à luz" em I Coríntios 4:5, II Timóteo 1:10. Satanás cegou os entendimentos dos incrédulos, "para que lhes não resplandeça a luz do evangelho" (II Co 4:4), que é, dar conhecimento dele. Então, "iluminado" aqui significa ser instruído na doutrina do evangelho, tendo desta forma uma clara compreensão dele. Na passagem paralela em Hebreus 10:26 as mesmas pessoas são citadas como tendo "recebido o conhecimento da verdade", confronte também em II Pedro 2:20-21. É, contudo, somente um conhecimento natural de coisas espirituais, como pode ser adquirido por ouvir exteriormente ou por ler, exatamente como alguém pode ser iluminado por fazer um estudo especial de uma das ciências. Isto está longe de ser aquela iluminação espiritual que transforma (II Co. 3:18). Uma ilustração de uma pessoa não regenerada sendo "iluminada", como aqui, é encontrada no caso de Balaão, em Números 24:4. Segundo, eles tinham "provado" o dom celestial.
Para "provar" é necessário ter uma experiência pessoal, e não uma mera descrição. O "provar" está em contraste com o "comer" de João 6:50-56. As opiniões estão divididas se o "dom celestial" se refere ao Senhor Jesus ou à pessoa do Espírito Santo. Talvez não seja possível para nós dogmatizar este ponto. Realmente, a diferença é indistinta, pois o Espírito está aqui para glorificar a Cristo, como Ele veio do Pai por Cristo como "Dom" de Sua ascensão ao Seu povo. Se a referencia for ao Senhor Jesus, João 3:16, 4:1, etc., serão referências pertinentes, se for ao Espírito Santo, serão Atos 2:38, 8:20, Atos 10:45, Atos 11:17. Pessoalmente, nos inclinamos para a última. Este Dom Divino é aqui citado como sendo "celestial" por causa do "céu", e que guia para o céu, em contraste com o Judaísmo - confronte Atos 2:2, I Pedro 1:12. Deste "Dom" aqueles apóstatas tinham "provado", ou tinham uma experiência comparável a Mateus 27:34 onde "provar" é oposto a verdadeiramente beber. Aqueles aqui em destaque haviam tido uma familiaridade com o Evangelho, como para ganhar uma grande medida de suas bem-aventuranças como também para grandemente agravar seus pecados e condenações. Uma ilustração deste fato é encontrada em Mateus 13:20-21. Terceiro, eles "se tornaram participantes do Espírito Santo".
Primeiro, deve ser mostrado que a palavra grega para "participantes" aqui é uma palavra diferente da que é usada em Colossenses 1:12 e II Pedro 1:4, onde verdadeiros Cristãos estão em vista. A palavra aqui simplesmente significa "companheiros", referindo-se a algo externo ao invés de interno. É para ser observado que este item está colocado no meio de cinco, e isto porque ele descreve o princípio motor dos outros quatro, os quais estão todos em efeito. Estes apóstatas nunca "nasceram do Espírito" (Jo. 3:6), muito menos eram seus corpos Seu "templo" (I Co. 6:19). Nem nós cremos que estes versos ensinam que o Espírito Santo tenha, a qualquer tempo, trabalhado internamente neles, pois caso contrário Filipenses 1:6 teria sido contradito. Isto significa que eles tinham compartilhado dos benefícios de Suas operações sobrenaturais e manifestações: "...moveu-se o lugar..." (Atos 4:31) ilustra isto. Abaixo nós citamos o Dr. J. Brown:
"É altamente provável que o escritor inspirado refira-se primariamente aos dons miraculosos e operações do Espírito Santo pelos quais a primitiva dispensação da Cristandade foi administrada. Estes dons não foram de nenhuma forma confinados àqueles que foram 'transformados pela renovação dos seus entendimentos[11]'. As palavras de nosso Senhor em Mateus 7:22-23 e de Paulo em I Coríntios 13:1-2 parecem anunciar, que a retenção destes homens não renovados não foi muito incomum naquela época, de forma nenhuma elas mostram claramente que sua retenção e um estado não regenerado são de alguma forma incompatíveis."
Quarto, "E provaram a boa palavra de Deus".
Uma confirmação adicional de que o apóstolo aqui está se referindo a este fato, de que estes apóstatas tinham testemunhado o cumprimento da promessa de Deus é obtida através da comparação com Jeremias 29:10: "Porque assim diz o SENHOR: Certamente que passados setenta anos em Babilônia, vos visitarei, e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando a trazer-vos a este lugar." Note quão cuidadosamente o apóstolo ainda mantém a palavra "provar", o melhor meio de nos permitir identificá-los. Eles não podem dizer com Jeremias "Achando-se as tuas palavras, logo as comi" (Jr. 15:16). Um impressionante exemplo de alguém que tão somente "provou" a boa Palavra de Deus é encontrado em Marcos 6:20: "Porque Herodes temia a João, sabendo que era homem justo e santo; e guardava-o com segurança, e fazia muitas coisas, atendendo-o, e de boa mente o ouvia." Quinto, "E as virtudes do século futuro", ou "era futura".
A referência aqui é para a nova dispensação que foi anunciada pelo Messias de Israel de acordo com as predições do Velho Testamento. Isto tem correspondência com o "nestes últimos dias" de Hebreus 1:1, e está em contraste com o "tempo passado" ou a economia Mosaica. Seu Messias não era nenhum outro senão o "Deus Forte" (Is. 9:6), e maravilhosas e gloriosas, estupendas e únicas, foram Suas obras miraculosas. Destes "poderes" estes apóstatas haviam "provado", ou haviam experimentado. Eles haviam sido testemunhas pessoais dos milagres de Cristo, e também das maravilhas que seguiram Sua ascensão, quando tão gloriosas manifestações do Espírito foram dadas. Portanto eles eram "inescusáveis". Evidência convincente e conclusiva havia sido apresentada diante deles, mas não houve fé responsiva em seus corações. Um correto exemplo disto pode ser encontrado em João 11:47-48. "E recaíram".
A palavra grega aqui é muito forte e enfática, até mais forte que aquela usada em Mateus 7:27, quando é dito da casa construída sobre a areia: "e foi grande a sua queda." É uma queda completa, um total abandono do Cristianismo que está em destaque aqui. É um "virar as costas" proposital à verdade de Deus revelada, um total repúdio do Evangelho. É acontecer um "naufrágio na fé" (I Tm. 1:19). Este pecado terrível não é cometido por um mero professante nominal, porque ele não tem nada de onde realmente recair, salvo um nome vazio. A classe aqui descrita são aqueles que tiveram suas mentes iluminadas, suas consciências agitadas, suas afeições movidas em um grau considerável, e ainda aqueles que nunca foram trazidos da morte para a vida. Também não são Cristãos apóstatas que estão em estudo aqui. Não é simplesmente "cair em pecado", este ou aquele pecado. O maior "pecado" que um homem regenerado pode possivelmente cometer é uma negação pessoal de Cristo: Pedro foi culpado disto, e ele ainda foi "renovado para arrependimento". É uma total renúncia de todas as verdades distintivas e os princípios do Cristianismo, e isto não secretamente, mas abertamente, o que se constitui em apostasia. "É impossível que os que... recaíram, sejam outra vez renovados para
arrependimento".
Quatro questões aqui clamam por resposta. O que significa "renovados para arrependimento"? O que quer dizer "outra vez renovados para arrependimento"? Porque esta experiência é "impossível"? A quem isto é "impossível"? O arrependimento significa mudança de pensamento: Mateus 21:29 e Romanos 11:29 estabelecem isto. É mais que uma ação mental, a consciência estando também ativa, levando à contrição e a autocondenação (Jó 42:6). No não regenerado é simplesmente uma obra da natureza, no filho de Deus é forjado pelo Espírito Santo. O último é evangélico, sendo uma das coisas que "acompanham a salvação". O primeiro não é assim, sendo a "tristeza do mundo", a qual "opera a morte" (II Co. 7:10). Este tipo de "arrependimento" ou remorso tem sua mais impressionante exemplificação no caso de Judas: Mateus 27:3-5. Tal foi o arrependimento destes apóstatas. O verbo grego para "renovar" aqui não ocorre em nenhum outro lugar no Novo Testamento. Provavelmente "restaurar" teria sido melhor, pois é a mesma palavra usada na Septuaginta, para um verbo Hebraico que significa renovar no sentido de restaurar: Salmo 103:5; Salmo 104:30; Lamentações 5:21. Josephus o aplicou à renovação do Templo! Mas, o que significa "renovar para arrependimento"? Agora é impossível "renovar para arrependimento" aqueles que abandonaram totalmente a revelação Cristã. Algumas coisas são "impossíveis" no que diz respeito à natureza de Deus, como ele não poder mentir, ou perdoar pecados sem a santificação em Sua justiça. Outras coisas que são possíveis à natureza de Deus são feitas impossíveis por Seus decretos ou propósitos: Veja I Samuel 15:28-29. Ainda outras coisas são "possíveis" ou "impossíveis" considerando a regra ou a ordem de todas as coisas conforme foram estabelecidas por Deus. Por exemplo, não pode haver fé sem ouvir a Palavra (Rm. 10:13-17). É necessário ser observado cuidadosamente que no conjunto desta passagem de Hebreus 5:11 em diante o apóstolo está falando de seu próprio ministério. Nas mãos de Deus, Seus servos são os instrumentos pelos quais Ele trabalha e através dos quais cumpre Seu propósito evangelístico. Portanto, Paulo pode dizer com propriedade "porque eu pelo evangelho vos gerei" (I Co 4:15). E de novo: "Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós" (Gl. 4:19). Assim os servos de Deus têm, através da pregação do Evangelho, "renovado para arrependimento" aqueles citados em Hebreus 6:4. Mas eles apostataram, eles totalmente repudiaram o Evangelho. Sendo conseqüentemente "impossível" aos servos de Deus "renová-los novamente para arrependimento", pela razão auto-suficiente de que não têm outra mensagem para proclamar àqueles. Eles [os servos de Deus] não têm outro Evangelho de reserva, nem outros motivos a apresentar. O Cristo crucificado já havia sido posto diante deles. Ele [Cristo] eles agora denunciaram como um Impostor. Não há "nenhum outro nome" pelo qual eles possam ser salvos. Sua pública renúncia de Cristo tornou seu caso sem esperança, até onde os servos de Deus saibam. "Deixai-os" (Mt. 15:14) é agora sua ordem: compare com Judas 22. Se é, ou não, possível a Deus, consistentemente com Sua santidade, humilhá-los, nossa passagem não estabelece. "Pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus" (verso 6).
Isto é apresentado para mostrar a gravidade de seu terrível crime e a impossibilidade deles serem renovados novamente para arrependimento. Renunciando à sua profissão Cristã eles declararam que Cristo é um Impostor. Portanto, são irrecuperáveis. Tentar prosseguir debatendo com eles, será somente deitar pérolas aos porcos[14]. Com este verso deve ser cuidadosamente comparada a passagem paralela em Hebreus 10:26-29. Estes apóstatas têm "recebido o conhecimento da verdade", apesar de não um conhecimento redentor dela. Depois disto eles pecaram "propositadamente": houve uma deliberada e aberta desaprovação da verdade. A natureza do seu pecado particular está designando um "pisar o Filho de Deus (algo que nenhum Cristão verdadeiro jamais fará) e contando (considerando) o sangue da aliança algo profano", é isto, olhando Aquele que foi suspenso na Cruz como um malfeitor comum. Para tanto "não resta mais sacrifício pelos pecados". Seu caso é sem esperança tanto quanto ao homem é concedido saber; e o escritor acredita, que os tais são abandonados por Deus também. Tal aviso foi necessário e bem calculado para agitar os indolentes Hebreus. Sob a economia do Antigo Testamento, por meio de tipos e profecias, eles tinham obtido vislumbres da verdade como sendo Cristo, a chamada "palavra da origem de Cristo". Sob aquelas sombras e vislumbres eles tinham sido educados, não sabendo sua completa importância até que tivessem sido abençoados com a plena luz do Evangelho, aqui chamado de "perfeição". O perigo ao qual eles estavam expostos era o de recuar do chão sobre o qual o Cristianismo os havia colocado, e relaxar ao Judaísmo. Agir desta forma significa re-entrar naquela Casa que Cristo havia deixado "deserta" (Mateus 23:38), e seria juntar forças com Seus assassinos [de Jesus], e portanto "eles, de novo crucificam o Filho de Deus", e por sua apostasia "o expõem ao (público) vitupério". Nós podemos acrescentar que a palavra grega aqui para "crucificar" é uma palavra mais forte que a que é geralmente utilizada: ela significa "crucificar ao alto". A atenção é assim direcionada para a ereção da cruz na qual o Salvador foi suspenso para escárnio público. Tomando a passagem como um todo, é necessário ser lembrado que nem todos os que têm professado receber o Evangelho foram nascidos de Deus: a parábola do Semeador mostra que a Inteligência deve estar informada, a consciência examinada, os sentimentos naturais extirpados, e ainda não deve haver "raízes" neles. Nem tudo que reluz é ouro. Há sempre uma "mistura de gente" (Êxodo 12:38) que acompanha o povo de Deus. Além disso, há no verdadeiro Cristão um velho coração, que é "enganoso, mais do que todas as coisas, e perverso[15]", e por esta razão ele está em constante carência de um alerta fidedigno. Este, Deus tem dado a cada dispensação: Gênesis 2:17; Levítico 26:15-16; Mateus 3:8; Romanos 11:21; I Coríntios 10:12. Conclusão Finalmente, precisa ser dito que enquanto as Escrituras falam claramente e positivamente da perseverança dos santos, ainda é uma perseverança de santos, não de professantes não regenerados. A Divina preservação não está somente em uma situação segura, mas também em um caminho santo de disposição e conduta. Nós estamos "mediante a fé, guardados na virtude de Deus para a salvação[16]". Nós estamos guardados pelo Espírito trabalhando em nós um espírito de total dependência, renunciando nossa própria sabedoria e força. O único lugar do qual nós não podemos cair é aquele embaixo, na poeira. É lá que o Senhor busca Seu próprio povo, desarraigando-os de toda a confiança na carne, e dando-lhes a experimentar que é quando estão fracos é que são fortes[17]. Estes tais, e somente estes tais, são salvos e salvos eternamente. ___________________________________________________________________
1 Todos os textos bíblicos citados neste estudo foram extraídos da tradução de João Ferreira de Almeida - Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original (ACF), editada pela Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, exceto quando houver sido especificado em contrário.
2 NT - A palavra original do inglês é "professor", que significa alguém que professa uma determinada crença. Referindo-se a Cristãos, o ato de professar a fé, não implica necessariamente que esta pessoa tenha sido regenerada pelo sangue do Cordeiro de Deus. E este é o sentido no qual esta palavra deve ser entendida neste estudo: Uma pessoa que professa a fé Cristã, mas sem ter sido transformada por Cristo.
3 I Timóteo 1:19 - "Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé."
4 Hebreus 6:18 - "Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta;"
5 II Timóteo 3:16 - "Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça;"
6 Mateus 11:28 - "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei."
7 Lucas 23:34 - "E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem..."
8 Hebreus 6:9 - "Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos."
9 Malaquias 4:2 - "Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, e cura trará nas suas asas; e saireis e saltareis como bezerros da estrebaria."
10 Mateus 13:20-21 - "20 O que foi semeado em pedregais é o que ouve a palavra, e logo a recebe com alegria;
21 Mas não tem raiz em si mesmo, antes é de pouca duração; e, chegada a angústia e a perseguição, por causa da palavra, logo se ofende;"
11 Romanos 12:2 - "E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus."
12 NT. Este comentário se refere à tradução encontrada na Bíblia em Inglês (King James Version), na qual temos o seguinte texto: "If they shall fall away". A tradução em português de João Ferreira de Almeida, (conforme pode ser lida na Edição Revista e Corrigida Fiel ao Texto Original da Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil) traz "E recaíram" que é uma tradução perfeita e fiel ao texto grego original.
13 Efésios 4:21 - "Se é que o tendes ouvido, e nele fostes ensinados, como está a verdade em Jesus;"
14 Mateus 7:6 - "Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem."
15 Jeremias 17:9 - "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?"
16 I Pedro 1:5 - "Que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo."
17 II Coríntios 12:10 - "Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte."
Por Arthur W. Pink
Original: Site Luz para o Caminho Tradução: Walter Andrade Campelo
grande exposição!!
ResponderExcluiré de se tirar o chapeu.
a biblia é bem explicita que uma vez salvo sempre salvo, pois isto é dom de Deus e não vem de nos para que se ninguem se glorie.
A salvação exclusiva pela fé foi um dos motivos principais para a reforma protestante, que o diga lutero.
depois surge o arminiasmo que é uma tentativa de colocar a salvãção sob a responsabilidade do homen, ignorando completamente as escrituras sagradas.
acredito que tal como o arminiasmo foi combatido no pos reforma e condenado pela igreja, hoje tambem nos devemos combater essa heresia que se instarou em varias denominações.parando com a divinização da obra humana e passarmos a louvar ao Salvador pela sua obra redentora atraves do Espirito Eterno.
Romanos 8:30
estarei disponibilizando o vosso link no nosso blogue
obrigado por divulgarem o nosso.
que o Senhor da ceara vos abençoe rica e poderosamente
Manuel Dilandamoko
http://bereanosdeangola.blogspot,com
Pastor Uziel, Marcos, demais irmãos:
ResponderExcluirVocês estão escolhendo muitíssimo bem os textos para publicação nesse espaço. A.W.Pink é uma excelente referência. Tenho também uma brilhante exposição sobre esse texto, do Rev.Moisés Bezerril. Caso interesse, é só entrar em contato.
Tudo de bom!